Face a face com a morte

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Duas histórias reais demonstram como a vida cotidiana pode
estar interligada a profundas questões existenciais. A primeira se
passou durante a Segunda Guerra Mundial; a outra, na América
Central de nossos dias.
Kim Malthe

Quando Kim Malthe Bruun tinha dezessete anos, a guerra
estourou e ele testemunhou a profanação de importantes valores
humanos por parte de uma potência estrangeira invasora. Após um
ano, em 1941, Kim foi ser marinheiro, mas no outono de 1944
desembarcou na Dinamarca e entrou no movimento ilegal de
resistência. Alguns meses depois acabou preso pelos alemães, e em
abril de 1945 foi condenado à morte e fuzilado.
Não era raro os jovens assumirem a luta contra a ditadura
nazista. Se ela acontecesse hoje, talvez você e seus amigos também se
envolvessem nessa luta.
O que Kim escreveu, nós sabemos. A última carta para sua
mãe contém a seguinte passagem:
Hoje Jörgen, Niels, Ludvig e eu nos apresentamos diante de
um tribunal militar. Fomos condenados à morte. Sei que você é uma
mulher forte e conseguirá suportar tudo isso, mas quero que
compreenda. Eu sou apenas uma coisa insignificante, e como pessoa
logo serei esquecido; mas a idéia, a vida, a inspiração de que estou
imbuído continuarão a viver. Você as verá em todo lugar — nas
árvores na primavera, nas pessoas que encontrar, num sorriso
carinhoso.


 Marianella Garcia Villas
Em março de 1983, Marianella Garcia Villas foi assassinada pelos
militares na república centro-americana de El Salvador. Fazia vários
anos que as forças do governo e os guerrilheiros rebeldes travavam
uma feroz guerra civil. Durante essa guerra, uma facção do Exército,
juntamente com extremistas, havia raptado e assassinado milhares de
pessoas. A jovem advogada Marianella formou um comitê de direitos
humanos para investigar casos de desaparecimento e tortura. Em
decorrência, acabou indo para a "lista negra" dos terroristas. Ela
sabia que sua vida corria perigo.
Como você teria reagido a uma ameaça desse tipo? A reação de
Marianella foi continuar a luta. No início de 1983, ela visitou uma
das zonas de guerra, numa missão do Comitê de Direitos Humanos.
Ela nunca mais voltou. Porém, uma carta que escreveu em 1980 nos
conta qual era o impulso que a movia:
Eu luto pela vida: um trabalho real, que vale a pena. Não
tenho nenhum desejo de morrer, mas já vivi tão perto da morte e de
suas consequências que a vejo agora como algo natural. Todos nós
devemos morrer um dia, mas a morte sempre virá cedo demais para o
homem ou a mulher que tem uma intensa sede de viver. Cada minuto
que passa tem um significado, uma profundidade maior do que
qualquer outra coisa, mesmo que pareça comum e rotineiro. Cada
rajada de vento, cada canto da cigarra, cada revoada de pombos é como
um poema.
Sei que os que trabalham pela justiça sempre terão o direito a
seu lado e receberão a ajuda de Deus; estes irão prevalecer, e a
verdade resplandecerá.
É melhor ser rico de espírito do que em bens materiais.

Marianella e Kim lutaram por idéias e valores em que
acreditavam. Chegaram até a sacrificar a vida pelo que consideravam
certo. Contudo, uma filosofia de vida não se manifesta somente em
guerras e situações de tensão. Não se associa apenas a feitos heróicos
e a grandes idéias. Nossa visão da vida também trata de coisas
íntimas — como nossa atitude para com a família e os amigos, para
com o trabalho e o lazer. Nossa perspectiva está ligada ao próprio
modo como desfrutamos a vida. "Cada revoada de pombos é como um
poema", escreveu Marianella em sua carta. E Kim, sentado em sua
cela à espera da morte, escreveu sobre as árvores na primavera e um
sorriso carinhoso.
Se esses dois defensores da liberdade tinham alguma coisa
em comum, era a experiência de que a vida é algo infinitamente
precioso. As cartas de Kim e Marianella irradiam a experiência de
valores fundamentais que para nós, na nossa vida diária, podem por
vezes passar despercebidos.
Será que precisamos enfrentar a morte cara a cara antes de
podermos experimentar a vida? Será que precisamos ver nossas idéias
e nossos ideais ameaçados e pisoteados para que possamos
compreendê-los?
"Os que nunca vivem o momento presente são os que não
vivem nunca — e o que dizer de você?",

6 comentários:

Author Dois disse...

Parabéns pela qualidade dos textos.
Estou seguindo, segue de volta?

http://villacosmetica.blogspot.com

Érr# disse...

Adorei o seu blog!
Parabéns
bjbj
http://viceveersa.blogspot.com/

Anônimo disse...

eimm amigo (ª) Eu estou passando um selo xD de Bloger para Bloger OK!
vê lá!!! Eu te escolhi!!!

http://imundoo.blogspot.com/2011/05/galera-eu-ganhei-um-selo-uhull-xd.html

Digo Sim Digo Não disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Digo Sim Digo Não disse...

Olá, parabéns, muito bom seu blog!!
Gostaria de deixar um pedido pra que visite o nosso também!!

http://digosimdigonao.blogspot.com
=)

Espero que goste!!
Ate mais!!

Catia ♥ Lucia disse...

\o/ maravilhoso texto... teve um enorme significado para mim... vc mesma que escrever? Se foi... meus parabéns!Bjs

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