Lembranças

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011


Sentada no sofá, fico em silencio e penso, quantas coisas nesses 22 anos de vida eu já passei, há tantas coisas que passaram que oitenta por cento deles não lembro mais.
E numa dessas tentativas de recuperar o disco rígido do meu cérebro, vasculho nos cantos mais vácuos da minha memória em busca de alguma coisa feliz que já tive na minha vida.
 Percebo que na verdade a felicidade nunca esteve presente na minha vida, e se teve alguns. Foram pequenos momentos de alegria, que logo seria sufocada por longos períodos de crises existenciais.

E sentada no sofá, fumando um cigarro, meu remédio posso assim dizer, me deixa mais calma, relaxada. E a minha memória me leva ao ano de 1998, estava com 9 anos de idade.
Eram dias ensolarados, o mundo estava perto de um novo século e sentíamos as mudanças de nova época surgindo. Era o do século 20 e o inicio do século 21
Os valores mudariam, as pessoas mudariam novos pensamentos, novas ideologias, filosofias, teorias e os sentimentos também mudariam.
 Um tempo de transição acontecia.
E o ano de 1998 também estava recheado de dramas pessoais, tanto para a minha família como para as pessoas próximas.
Estava eu em uma nova escola, uma garota tímida que vivia numa pequena cidade do interior do rio grande do sul. Mudanças aconteceriam em minha vida, as minhas crises começariam a me perturbar, sensações angustiantes.

Em meu bairro uma menina chamada Gisele. Não lembro mais do seu rosto, tento recuperar sua face em minha mente, tento lembrar como era sua voz, não lembro mais.
Nunca nos falamos apenas já nos vimos na escola, mas mesmo assim, sabíamos uma da outra. Todos conheciam as nossas vidas, e quem seriamos.
No mês de maio de 1998, essa menina, a Gisele, sofreu um acidente grave, e não resistiu, morreu no dia seguinte. A comoção na cidade foi imensa. Fui ao seu velório, todos da escola foram e a maioria da população da cidade creio que foram.
Vi tantas pessoas lá, muitas delas chorando, seus pais passando mal, perdiam a filha deles, a filha tão querida por eles. Um momento tão triste, que todas as noites passaram a fazer parte dos meus pensamentos.
Vir aquela menina tão cheia de vida, e com certeza tinham muitos sonhos, muita curiosidade sobre o mundo, queria conhecer muito ainda. Mas de repente ela foi embora e tudo acabou.
Então imaginei como era tão triste essas coisas! Você sonhar, fazer projetos de uma vida, querer viver, mas a vida de repente acaba, do nada.
Os seus sonhos acabam, seus projetos, tudo na sua vida acaba.
E você ficará apenas nas memórias das pessoas que a conheceram, você deixa de existir e passa um tempo que um dia as lembranças que tinham de você também se esvai com o tempo, esquecem de como era o seu sorriso, esquecem como era a sua voz, esquecem dos momentos, das suas perguntas,do seu jeito de reclamar, como era tão chata, o modo de pensar e como gostava de se vestir.
O tempo passa e então você deixa de existir completamente nas vidas daquelas pessoas.

E pensando nisso
Às vezes penso, será se eu morrer, até quando vão lembrar de mim?
Até quando continuarei viva nos pensamentos das pessoas?
E o meu laço se estreitou muito com as outras pessoas. Não tenho amigos.

2 comentários:

palavras ao vento disse...

belas palavras...lembrar faz bem...desde que essas lembranças não nos fazem pensar em algo que nos deixa mal,,,temos que viver um dia de cada vez,,,vivendo só assim vamos ter lembranças e quem sabe ser lembrado um dia...

Michel Carvalho disse...

Apesar de um texto intimista, às vezes, melancólico, é muito interessante ao refletir sobre o quanto dura as coisas em nossas vidas, tudo é tão fugaz, não é? Ah, adorei a trilha sonora!!!

Se quiser conheça também meu blog:

http://midiacidada.blogspot.com/2011/01/o-casal-simbolo-da-elite-brasileira.html

Abs

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